terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Pesquisadores descobrem como hormônio ativa células do sistema imunológico

Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros desvendou a via bioquímica pela qual a melatonina – um hormônio produzido pela glândula pineal e em células do sistema imunológico – modula a morte induzida por ativação de determinadas células T, que são glóbulos brancos especializados em matar células contaminadas por microrganismos intracelulares, inacessíveis aos anticorpos circulantes.
Autor principal do artigo, Gustavo Amarante-Mendes, professor do Departamento de Imunologia do ICB-USP, explica que a melatonina já é utilizada clinicamente para tratar distúrbios do sono, por exemplo. Mas, até agora, nada foi explorado em relação ao sistema imunológico.
“O foco do estudo foi avaliar se a melatonina teria um papel na regulação da resposta imune."
A melatonina, segundo ele, é um hormônio inicialmente descrito como sendo produzido na glândula pineal, mas cada vez mais se consolida o conceito de que ela também é produzida em outros pontos no organismo.
“Aparentemente, em situações inflamatórias a produção de melatonina no próprio local da inflamação é até maior do que a produção pineal. Assim, nos interessamos por estudar até que ponto esse hormônio tem o efeito de modular a relação entre o sistema imune e a inflamação”, contou. “Nossa questão mais geral consistia em saber se, nas situações em que há inflamação ou infecção, existia a produção de alguma via de sinalização extra que controlasse a existência de células T-Helper”, disse. As células T-Helper, também conhecidas como linfócitos CD4+, são os intermediários da resposta imune que proliferam após o contato com o antígeno para ativar outros tipos de células com ação mais direta.
Expansão imunológica
O grupo demonstrou, no primeiro artigo, que em resposta a padrões moleculares presentes em patógenos, as células apresentadoras de antígeno liberam a prostaglandina E2. “O hormônio atua nas células T-Helper, que são estimuladas pelas células apresentadoras de antígeno de tal maneira que essas células T não acionam os receptores CD95L”, explicou Amarante-Mendes.
A interpretação desses resultados, segundo ele, tem duas interpretações possíveis. Uma delas é que os receptores CD95L, quando aumentados pelo estímulo antigênico, podem levar ao fenômeno conhecido como morte celular induzida por ativação – o que regula a sobrevivência da célula T.
“Por outro lado, os receptores CD95L poderiam também estimular a morte da célula apresentadora, o que também contribuiria para a expansão da ligação clonal. Nos dois casos, o CD95L é uma molécula que estaria controlando a expansão e, portanto, a resposta imune mediada pelas células T-Helper”, disse.
No primeiro trabalho, de acordo com Amarante-Mendes, o grupo descreveu uma via de reconhecimento de infecções, gerando um mediador lipídico para a célula apresentadora.
“No segundo caso, mostramos que a melatonina produzida em resposta inflamatória, com a presença ou não de infecção, também previne o aumento da expressão do receptor CD95L. Nesse caso em particular, descrevemos completamente a via bioquímica, mostrando que a melatonina interage com o NFAT, um fator de transcrição que é fundamental para a expressão do CD95L”, disse.
“Nosso objetivo agora, tanto no caso da prostaglandina como no caso da melatonina, é contextualizar esses processos biologicamente em algum sistema de infecção com camundongos, por exemplo. Estamos procurando passar da pesquisa básica sobre sinalização para a contextualização de alguma doença”, afirmou Amarante-Mendes.
 
 
Enviado por: Andréa Oliveira

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